sexta-feira, 17 de abril de 2009

Um bom artigo introdutório

O artigo abaixo, assinado por Mestre Steel, faz parte da coletânea do Desejo Secreto, na minha opinião a mais completa e séria revista virtual de BDSM no Brasil, que vale não só uma visita, como um estudo completo.

DS - Tudo que você queria saber sobre isso, mas tinha vergonha de perguntar
Mestre Hugo Steel


Em primeira análise, Ds significa Domination and Submission, ou seja, Dominação e Submissão. Mas técnicamente falando, os adeptos do Ds são aquelas pessoas que tanto adoram se submeter a outra, colocando-se assim sob seu absoluto poder, sexualmente falando, é claro!
O Ds é amplamente experimentado pelos Dominadores (Doms) como forma de mostrar controle, e pelos submissos (subs) como forma de ser controlado. Pode ser extremamente excitante para alguém dizer "Sou seu, use o meu corpo para o seu prazer".
Além disso, é comum que os parceiros concordem em uma troca de poder, propriedade, comando, ou direitos de propriedade. A isto chamamos de exchange power ou troca de poder. Isso é Ds: uma pessoa domina, a outra se submete. Como já disse em meu artigo do mês passado, o 24/7 (dominação em tempo integral) na qual o submisso se rende ao dominante com uma faixa muito ampla de direitos e poderes para controlar a sua existência diária. Seria uma enorme besteira escolher as palavras "controle total", uma vez que não é humanamente possível a um dominador controlar toda piscada ou pensamento que um submisso poderia fazer ou poderia ter cada momento do dia. Porém, o idealismo do Dom em ter o direito de controlar completamente e tomar todas as decisões por seu submisso é muito atraente para muitas pessoas. Mas em 99% dos casos as relações de Ds 24/7 não envolvem troca de poder. Essas relações costumam ser mais rígidas do que as demais relações Ds, embora isso não queira dizer que não haja nenhuma negociação ou comunicação a esse respeito. Todavia, esse é um conceito que dá lugar para muita controvérsia e debates veementes.
Se você ama 24/7 e essa é a forma que você desfruta da sua relação, ótimo! Se você é cético se existe ou não imagina como sustentar uma relação desse tipo, também ótimo! O importante é vivenciar plenamente suas fantasias da forma que melhor lhe convier.
Jogos do tipo "Mestre-escravo", "Papai e o mau menino", "aluno-Professor" são variações desse tema. O Ds é um jogo erótico de poder, onde ambos os parceiros se deixam levar, um sob o prazer do controle, o outro sob o prazer de ser controlado. Nesse tipo de jogo sexual, (ou sensual), o conceito está diretamente ligado às fantasias de cada um de nós, e transformá-las em realidade, criando um mundo mágico onde tudo pode acontecer(dentro dos limites do São, Seguro e Consensual) é o que realmete importa.
Sendo assim, podemos dizer, que os parceiros "vestem personagens" e vivem um "papel". Algumas pessoas às vezes se descrevem no papel de dominador ou no papel de um submisso quando jogam. Esta descrição pode ser muito enganosa para os novatos, porque sugere que Ds é sempre um jogo, ação, um estilo de comportamento, que desaparece quando a pessoa volta para "vida real" - digamos, para o trabalho ou interagindo com a familia ou amigos "baunilhas". Quando um dominador vivendo o papel não está só fingindo ser um dominador, ele pode adotar comportamentos externos particulares ou modos de se vestir especificamente para o jogo. Além do mais, até mesmo em pares de parceiros onde a pessoa pode estar no "papel" de dominante ou submisso para agradar o outro parceiro, não é comum estar tipicamente jogando o tempo todo. Normalmente os parceiros saem um pouco do jogo, para vivenciar o real prazer e alegria de estar se submetendo ou dominando o jogo.
É comum para um "baunilha" achar que o que eles experimentam é qualquer coisa menos "real" do que o que eles mesmos experimentam - mas isto não significa eles estão fingindo o que fazem. Em verdade, o que eles estão fazendo é vivienciar plenamente suas fantasias, alinhando assim seus ids e egos respectivos, o que pode ser extremamente saudável.
A definição precisa de termos como Ds, BD, BDSM ou qualquer outra sigla não tem tanta importância quanto as experiências que elas proporcionam.Todas essas áreas de interesse, como se vê, derivam de uma mesma célula-mãe chamada SADOMASOQUISMO. Na verdade, o termo Ds enfatiza um numeroso subgrupo dos sadomasoquista que nos últimos 20 anos tem se tornado muito popular, numa atividade bastante explorada por aqueles querem se entregar aos prazeres do SM, mas sem, contudo, nenhum tipo de dor física.
Mas em que realmente consiste o Ds?
Os parceiros, neste tipo de relação, extraem o prazer sexual em dar e/ou obedecer ordens, tais como: polir as botas dos doms, cozinhar o jantar para eles, ajoelhar-se aos pés do seu dominador, adorar-lhes alguma parte específicada do corpo, serem privados de orgasmo obrigados a gozar através de uma ordem, e vários outros. Há também tipos de atividades que costumam ser usadas mais como forma de castigo, como por exemplo, obrigar o sub a ir trabalhar usando uma calcinha de mulher, com um consolo introduzido no ãnus, por exemplo.
Uma das variações mais comuns do Ds é o mindfuck (que se traduzido ao pé da letra, daria em algo como foder a mente), mas numa adaptação mais livre pode ser entendido como controle mental. Os Mindfuckers usam um tipo de artifícios (e porque não dizer ilusões), como forma de jogar com a mente do seu sub. Algumas vezes isso inclui estados psicológicos com jogos de medo (digamos, ameaçar o submisso com uma faca), jogos de cenas (usando alguns elementos padronizados, como um professor com uma estudante, doutor com um paciente, um inquisitor com um espião, um cachorrinho com o seu dono, etc). Às vezes, Mindfuckers enganam seus subs fazendo-os acreditar que tudo o que eles vêem é real, quando não é.
Por exemplo: mostrar para o sub uma faca afiada, e substituí-la por um artigo inofenssivo (como um abridor de cartas) antes de correr a lâmina em cima de um dos mamilos ou inserir o artigo no ânus do sub (que está obviamente vendado). Alternativamente, o sub em questão poderia descobrir depois que a situação era pior do que ele acreditou ser. Geralmente, os Mindfuckers incluem qualquer tipo de manipulação mental.
Dois outros componentes psicológicos próprios dos jogos de D/s são o castigo e a disciplina (isto também se classifica na categoria menos usada de BD, mas atualmente está sendo discutido principalmente sob o título de Ds). Os castigos incluem, por exemplo, espancamentos, surras, ficar quieto de pé no canto da parede. Outra forma muito comum e agradável de jogo é o submisso desobedecer ao seu dominador deliberadamente, e o mesmo exigir que o sub execute uma tarefa desconhecida. Por outro lado, às vezes os parceiros organizam o seus jogos dirigindo-os para alcançar mudanças de comportamento - usando castigos e recompensas para treinar o submisso a se comportar de certa forma na presença do se Dom. Esse é um estilo de jogo bem comum, particularmente em relações de longo prazo.
Uma associação fundamental entre DS e SM é o sadismo emocional e o masoquismo emocional. SM emocional é um tipo de jogo que é extremamente quente para algumas pessoas, mas deixa outras completamente horrorizandas.
A palavra "humilhação" em particular, tem significados diferentes para todo o mundo. O que faz uma pessoa se sentir envergonhanda pode fazer outra pessoa se sentir humilhada ou ser degradante. É uma boa idéia falar cuidadosamente com o parceiro o que vem a ser o do jogo de humilhação. A forma mais comum é a humilhação pura e simples - por exemplo, humilhá-lo na presença de outros Mestres, emprestá-lo a um amigo (também Mestre) ou fazê-lo comer em um prato de cachorro.
Outra forma de SM emocional é o abandono emocional: o jogo consiste em que o Dom responda friamente para o sub ou o deixe solitário. Paquerar com outra pessoa em uma festa ou se comportar com indiferença para com o sub depois de uma cena difícil (onde induzir ao ciúme ou a indiferença é parte do jogo) são bons exemplos. Outra situação possível de abandono emocional que é bastante controversa, não só pelo seu forte apelo BD, como também pelo perigo que traz em si, é deixar um sub amarrado e impotente por muito tempo (antes de você fazer uma coisa como esta, pense em possibilidades extremas como: o que acontecerá se o sub tiver um ataque do cardíaco ou uma crise emocional ou ou até mesmo um mal súbito ou a formação de coágulos sanguíneos nas amarras enquanto ninguém está presente? É considerado perigoso deixar o parceiro amarrado por tempo demais e altamente não recomendável).
As regras de Ds não são padronizadas. Elas são normalmente elaboradas entre os parceiros durante negociações que sempre devem ser efetuadas antes de jogo. De um submisso não pode ser exigido ajoelhar-se aos pés de seu dominador a menos que os parceiros concordem que ajoelhar é uma atividade aceitável no jogo. Também não se pode ser exigido a um submisso submeter-se a dominadores diferentes do próprio parceiro. Se isso vier a acontecer, terá de ter sido combinado antes e de comum acordo.
Com a proliferação do BDSM na internet, muitos evoluíram os seus próprios comportamentos, que divergem bastante da prática de Ds. Em particular, é comum em IRCs, no OUL e no ZAZ (aqui no Brasil por exemplo) e em muitos outros canais de BDSM, Mestres e Dominadores esperem que os submissos usem somente letras minúsculas nos seus nicknames e se dirijam a todos os Dominadores como Senhor ou Mestre, tornando esse hábito quase um protocólo. Mas pessoalmente acho que o costume deveria ser justamente o oposto: nenhum submisso ou escravo deve ser tratado como tal por qualquer um, cuja a permissão não tenha sido negociada explicitamente para assim fazê-lo. Dar uma ordem ou esperar qualquer coisa diferente da cortesia inerente à boa educação, que deve ser comum a Doms ou subs, é violar o respeito humano básico.
Este costume de tratar todos os não-parceiros igualmente, se eles são dom ou sub, há muito tempo deu lugar a uma réplica famosa, que deveria ser usada por qualquer submisso sempre que achar foi ordenado para fazer algo por alguém que não é seu parceiro: "Eu posso ser um escravo, mas eu não sou seu escravo!". Também é importante lembrar a alguns Doms e Mestres que as regras de boa convivência mandam que não devemos nos servir dos submissos alheios (ou mesmos os "sem-dono") como sem fossem bem comum, pelo simples fato de serem submissos.
Seja como for ou porque for, o mais importante quando nos realcionamos com alguém de forma Ds é ter em mente que satisfazer os desejos e fantasias do outro é tão importante quanto satisfazer as nossas. O fato de ser o "DOMINANTE" da relação nada tem a ver com egoísmo.
Lembre-se: Todo e qualquer tipo de relacionamento humano é bi-lateral; se não nos damos à alguém, não podemos esperar nada em troca.

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